A adequação da simpatia constante em ambiente neoliberal deu nome ao Simpatia Full Time, projeto artístico que empresta figuras sociais construídas (ou em construção) e que assimilando-as as reconstróem em facetas subjetivas.
Dessa vez o Simpatia traz o espírito do rodeio para o ambiente da arte contemporânea: lembra que a mitologia aplicada existe, faz brincadeira de grupo, propõe um desafio ao interlocutor. Traz a citação do rodeio sem moralismo de classe ou pertencimento e dialoga entre o desejo e suas representações, em um espectro de conversas entre o querer e o querer. Rodopiar e cair querendo ser norte-sulamericano.
O « querer ser » está na vontade de liberdade, no artificial, nas dores consequentes e na vontade de se divertir como quase um manifesto. Uma paradoxal confusão entre um desejo de pureza, desconstrução da crença no corpo puro, desejo de legitimidade e até de fama. Um processual querer ser forte, bonita, inteligente, sensível, sexy e mulher mascando, pastando, sorrindo, pensando*. São estes figurinos de nu que o Simpatia Full Time veste sendo a encarnação do boi. Como touras aprendizes que buscam respeito em um jogo sem acertos.
Sorrir e balançar a cabeça. Querer ser da dimensão do touro que, aqui, é mecânico. Uma competição assimilativa. Olhar e babar. Te olhar e pastar. Sangrar no arame farpado chifrando algo ou alguém. A banha mecânica chacoalha em um exercício de domar-se. A fakebanha de velocidades e direções aleatórias. Tentar perceber o motor. Ficar em cima até onde dá. Montar de novo. Sorrir e ser boi.
Eu encaro demoradamente, me perdendo da noção da hora, fixando o olhar no horizonte, sem pressa e sem pressão, divagando bem devagarinho no limite da velocidade naquilo que parece ser o motor das pessoas.
Querer ser mecânica, para ser toura.
*em itálico trechos roubados e distorcidos da letra da música “Ser boi” de Maurício Pereira, meu amigo.
Sheila Ribeiro.
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