Diários Imersão 1 com Sheila Ribeiro - GORDURA

Atenção: O diário que segue faz parte de uma série relativa à primeira imersão para construção do espetáculo Simpatia Full Time. Como os demais, ele é de minha autoria (Dayana Zdebsky). Embora essa série de diários tente conter as inúmeras vozes e diferentes perspectivas dos sujeitos do projeto a que se refere contem, como todo registro, visões parciais das mesmas. As palavras, idéias e posicionamentos remetidos a terceiros (ou mesmos os meus) são, nada mais e nada menos, que minha compreensão e interpretação dos mesmos, sempre datadas, momentâneas e por vezes fugazes. Como é uma produção massiva e “full time”, peço de antemão desculpas pelos erros de português, frases mal construídas e informações fragmentadas.


Ontem Sheila pediu para as meninas trazer objetos... Dentre as coisas hoje presentes no trabalham estavam um espelho, sapatos, cintos, espartilhos, maquiagens e uma música da Madonna.
A partir de agora as informações aqui contidas serão mais fragmentadas. O nome da pessoa em parênteses antes das frases citam a pessoa a qual remeto determinada idéia, fala ou voz, mas da maneira com a qual compreendi e interpretei o que a pessoa expressou. Entre “[]” estão meus pensamentos e posicionamentos momentâneos e em itálico coisas mais descritivas.
(Sheila) - A idéia a princípio é a cada encontro trabalhar a partir de uma “palavra estopim”
- Possibilidade da explicitação da relação corpo cidade, com a qual o SFT não trabalha muito [Adoro..!]. {- relação de Pertence /não-pertence; - relação craque câmera de vigilância; - vários níveis de mascaramento e adaptação pessoal do que poderia ser uma vida humana nesta cidade.
- Simpatia Full Time invertido: Sté: interesse no pop e no kitsch (pop deslocamento, kitsch posicionamento de classe. - universo da cognição). Faz-se algo muito mais da ordem do pastiche, da ironia, do que ser simpática. Isso já é opressor, é uma forma de oprimir [a criação?]. Tem que tomar cuidado para não se afogar nisso.
- Direção: valores que vou colocar para ver se fazem sentido.
- Palavra de hj: gordura. Ontem falei de a gente ter uma lista de coisas que possamos focar a gordura: a própria gordura como coisa biológica material; peso (físico); táctil; representação (gordura como produto); idéia de gordura. Auto-imagem: a gordo – gordura – banha.
- Noção de full time nessa coisa toda: full time é coisa que é todo mundo simpático, sorrindo, te entendendo e vc se ferrando. Tá todo mundo aparentemente bem servido mas vc tá se ferrando. O full time é confiável, inserível, pertencente, adulto, respeitoso. Pretensão de ser.... tudo como se...
(Sté) - Isso tudo é o corpo social... O corpo que vc mostra para o outro. Representação de si, lógica do e pro outro.
(Sheila) - Multinacional, social, liberal....
(Gi) - Tem um outro lado que não nega esse: um jeito como a gente encara as coisas, a criação e o projeto que entra o tempo todo na coisa/vida. Criação não é para nós, no SFT, diferente da vida, o que eu falo aqui estou aplicando no dia-a-dia.
(Sté) – Estamos em uma linha bem tênue do processo terapêutico
(Sheila) - São duas coisas diferentes para mim: uma coisa é de onde a obra parte. Tem a obra e tem o que vcs estão fazendo com isso. Ambigüidade das ações: não só ir contra algo, mas explorar alguma coisa a partir dele.
(Cã) - Eu trouxe um espelho porque encarar meu corpo no espelho pode ser um estímulo.
(Sheila) - Vamos trabalhar primeiro em processo individual.
(Gi) - Trouxe roupas, sapatos.
(Sheila) – Todas as viagens que fiz para países em que os seres humanos têm mais dificuldade os artistas são mais representativos, não têm paz de espírito. Eu acho que a minha contribuição é trabalhar com coisas menos representativas. Gordura é enormemente irrelevante e relevante. Vamos buscar surpresas no seu corpo (para Gi). Sté começa com a sua música da Madonna.

Cada uma para um lado.

Cândida se despe.... Gi também.
Cândida: movimentos entre danças e exercícios. Vai largando as peças de roupas que veste. Sté deitada mandando Erotica da Madonna. Cândida posicionou o espelho na frente de seu corpo.
Cândida rindo do seu corpo sobre o espelho.... Gi coloca uma cinta. Cândida. Espelho no chão vendo o movimento do corpo já completamente nu sobre ele.
Giorgia coloca mais um corpete...

(Sheila) -Vamos explorar as ações dentro do corpo. Sté: procura sons de maneira mais tátil pelo corpo: mais conexão de o que vc está fazendo com a mão e onde está tocando. A Cã encontrou uma coisa super legal na barriga, um movimento que pode explorar com o peito. Gi, eu pensei que vc poderia ir se amarrando mesmo, se apertando mesmo com essas coisas....
(Sheila) - Pensei em usar os mesmos estímulos no corpo do outro. Os Rítmos na Gi e amarração no corpo da Sté.
Peito da Cândida – limite entre o peito bom e ruim segundo o chacoalho....
(Sheila) – Sair da massagem e procurar outras coisas como a percussão erótica.
Sheila no Google pesquisando coisas sobre gordura.
(Sheila) - Gi, se vc puder ir se movimentando....
- Depois todas trabalhando na Cândida. Busca de partes de chacoalho..
- Amarrações da Sté. [Muito adequado para suas queixas em relação à gravidez.... e muito interessante fato de isso ser feito coletivamente. É uma imagem muito potente.]
- Simulação do touro mecânico: todas passaram.... chacoalhos.
(Sheila) - Eu estou propondo para ver se a gente vai para outro lugar. 1 questão na casa: quem é o objeto de quem? Ambientes territórios e estímulos que a pessoa se confronte com a situação. Ex. O fato de ser tocado: ambiente massagem, instrumento musical funcional e o não funcional e o lado erótico. Como colocar uma arquitetura que o espectador vai se colocar naquela função tbm. Se ele tiver que fazer pode não ser simpático, mas pode ser legal tbm. Tem um lado vcs, performers ou os dois... cria uma ambigüidade (vergonha/exibicionismo) em um ambiente que pode ser perverso. Ainda nisso é importante explorar bem o conceito, arquitetura do espaço e corpo do performer. Eu sinto um pouco falta da coisa micro. Isso tbm é um ato político. Uma coisa engraçada: a gente é muito dado para ação. E é engraçado que isso não dialoga com a ação. As vezes esquecemos que tem uma pessoa alí. Se a gente passar pelo negócio da Cândida: alí eu tive um pequeno tabu comigo mesma... Eu fico pensando que vcs trabalho muito no nível das idéias, para ver se o universo tátil dialoga com os das idéias. Quando eu trabalho fico fazendo um scan e parto para o ataque. Importância de se dar outros meios que não apenas o de idéias. Uma coisa é experenciar alguma coisa. Procurar outros sentidos compositivos. Suítes de estados. Flutuar em outras maneiras de se colocar na ação. Público tocado. Como se coloca a situação de ser tocado na casa de forma que isso seja possível e seja impossível o mesmo tempo.
(Cândida) - E se o público perceber que a coisa só vai acontecer se ele agir?
(Sheila) - O perigo é fazer as coisas funcionarem, mas as coisas não tem que necessariamente funcionar. São três possibilidades: quando o touro funciona é ok, quando não funciona ok, e quando não dá certo ok tbm. A coisa vai ser mais facilmente estopim quando a gente entender a função alí.
- Foco: corpo do performer, do espectador ou o contexto. Essa questão tem que ser refletida.
- Questão de ser amarrado. Interessante trabalhar várias possibilidades de composição. Amarração: erótica, tortura, fashion. Vale à pena pesquisar bastante. A bizarrice é impressionante, mas qual é o interesse do bizarro? Ali vem a questão da música, do brega do “Lapada na rachada”. A gente poderia amarrar de outras maneiras para aprender com a ação. Amarrar criando a relação com a gordura. Cultura e natureza tbm é uma questão muito forte.
- Montar o jogo de modo a mostrar os ingredientes com que compomos. É uma das possibilidades de linguagem.
- Subjetivo e social um disfarçado do outro. O movimento para um todo é um movimento de subjetividade.

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