Diários Imersão 1 com Sheila Ribeiro - PÉ DE MARACUJÁ E FEIAxBONITA

Atenção: O diário que segue faz parte de uma série relativa à primeira imersão para construção do espetáculo Simpatia Full Time. Como os demais, ele é de minha autoria (Dayana Zdebsky). Embora essa série de diários tente conter as inúmeras vozes e diferentes perspectivas dos sujeitos do projeto a que se refere contem, como todo registro, visões parciais das mesmas. As palavras, idéias e posicionamentos remetidos a terceiros (ou mesmos os meus) são, nada mais e nada menos, que minha compreensão e interpretação dos mesmos, sempre datadas, momentâneas e por vezes fugazes. Como é uma produção massiva e “full-time”, peço de antemão desculpas pelos erros de português, frases mal construídas e informações fragmentadas.

MOMENTO A

Pretexto do dia: música do maracujá que a Cândida fez quando criança e que “volta sempre”. Música que desperta uma simpatia que a interessa. É o tipo de música que gruda. A idéia é fazer da música um hit de sucesso.

Cândida começa improvisando com a música.

Cândida: sapato de salto um pouco grande demais, roupa justa, parece um collant de jazz....

A música:
“Menininha não faz isso daí (bis)
Eu sou feia, eu sou burra, eu sou um pé de maracujá”

Busca pelo sapato da ponte com cadeira.
Poses tipo “modelo gatinha” para fotos.

[pensei na possibilidade de transformações efetivas dentro da casa, como aquelas dietas de sopa durante 7 dias que dizem que fazem perder de quatro à sete quilos]

“Não faça isso...” Cândida cantado junto poses pop/sexy.

“Não faça não disfarça
Eu sou feia eu sou gorda, não confunda cu com bunda.”

Sheila pede para Gi usar o mesmo estímulo musical

Giorgia amarra os pés.
Sheila sugere que se inverta o sentido da música:

“Meninha faz isso daí, eu não sou feia, eu não sou burra...”

“Menina só dança comportada, não rosna, não grita.”

(Sheila) - O mudar é também fazer o inverso, o espírito inverso, sair do estado da dor para ir para o estado do conforto, pq tenho a impressão que vcs trabalham muito com a dor...
[bingo! ostra feliz não faz pérola...]

Cã de volta no improviso: “Vc pode fazer o que quiser.,.. eu sou linda, absoluta, eu sou Stefhany no meu cross fox..."
[a sensação é que mesmo o prazer vem de algo desconfortável...]
Desfile
[a mesma música não se transformou? Porque entrou a música do outro?]

(Sheila): Agora os talvez: talvez se possa fazer, talvez eu faça, talvez eu seja um pé de maracujá....

O talvez levou, a princípio, à ações mais sutis.

Entra Gi. Fica de baixo da cadeira dizendo que “se ela fizer o que quer vai se arrepender...”

Cândida volta: corpo nu no escuro... Monta poses.

Jogo com a luz....

(Sheila) – Pede para retomar sempre a música como um modo de não fugir do assunto.

(Sheila) - Continua a mesma coisa com muita frescura....


(Sheila):Tudo isso que estou fazendo é mais pretexto para trazer mais questões e conversar sobre o fazer.
Explorar música através da música mesmo. O trabalho de vcs tem uma coisa da dor. Isso eu questiono. O problema pra mim é que as vezes é uma maneira de esconder. Não chega a ser um problema, mas uma coisa a se pensar.
Quando eu trazia uma maneira que vcs não conseguiam trabalhar apareciam ruídos, tinha um poço entre a direção e a maneira de fazer. Para mim a música era ligada a dor e a inversão era ligada à soberania. Me mostra uma relação super perversa com a música.
No talvez: quando se coloca ele a gente corta imediatamente o estar e o ser... Essa questão do poder é muito estranha dentro de vcs, vcs colocam muito o ser e o estar... Eu particularmente não gosto de obra de arte moralista... me interessa coisas da ordem do ser humano. Não me interessa opiniões pessoais, me interessa uma conexão estética que vai para além do terreno. O talvez não deixou entrar na soberania ou na dor.
(Gi): O talvez é muito a Cândida... Talvez os outros tbm sejam, mas isso tbm é.
(Sheila): Em termos de estado performático muda muita coisa. Eu vi que tinha alguma coisa empacada, um tipo de psicologismo no método de vcs. Então eu não propus nem ambigüidade e nem incoerência. Quando era a dor tinha duas vozes. Quando eu propus um superlativo vcs não conseguiram, deu regressão. Tem um tipo de psicologismo que eu questiono.... Eu não sei se ele é uma porta de entrada ou um artifício para esconder. ... É um desafio importante para o artista entrar no poder que tem. Quando formos propor mais coisas, eu acho que vcs poderiam ser mais elásticas para se permitir surpresas de si mesmas. [Minha opinião sobre isso é que já foi uma porta de entrada em que as meninas se esconderam atrás]. Repetição e ação ligado ao bizarro em algum nível. Se vc se coloca no papel do bizarro dialeticamente tem uma humanidade.
(Gi) - A gente já discutiu isso. A Cã falou que no vídeo do touro o interesse era trabalhar o bizarro do corpo dela. Eu acho que isso é reforçar o normal, o padrão, e eu acho que podíamos trabalhar o grotesco desconstruindo o corpo e o ambiente. A Sté disse que se interessava tbm pelo “corpo puro”. Nós queríamos trabalhar com roupas tbm e a Sté queria um corpo pelo corpo.
(Sheila) - A idéia não é pesquisa. Acho que vale à pena entrar na idéia senão ela não vira pesquisa.
(Gi) – Eu tenho dificuldade de me colocar feia em cena. Eu sempre tento pensar em uma outra beleza.
(Sheila) - Pensei na questão do mostro. O monstro é uma questão mitológica importante. Ele é uma criatura fantástica, ele tem características humanas ou não, ele perpassa o social, mas ele não é o mal e a feiúra. O monstro é a possibilidade mítica.
(Cã) - Na primeira reunião resolvemos ficar o tempo todo sorrindo, com o tempo nossos sorrisos se transformavam.
Sheila: Não sei se isto é simpático.

MOMENTO B

Hipótese anterior: relação dialógica de partir do poder.

dor X soberania... psicologismo que corta a ação.

(Sheila): Eu queria partir do movimento a partir da simpatia mesmo, mas sem ironia.

busca de música na rádio....


(Sheila): - Proposta 1: Desde que estou buscando trabalhar sem “intenção representativa”... Minha proposta é trabalhar o movimento dentro da beleza, se dar direito à beleza. É isso: trabalhar movimento e beleza.

Proposta 2- colocar na respiração os mesmos adjetivos de beleza: uma respiração que ocupe o seu lugar no espaço.

Proposta 3- o olho enquanto órgão, o olhar erótico, dentro de si, for a de si, onde está o foco.

Proposta 4- beleza na relação entre olhar e respiração. A beleza no encontro destes

Proposta 5 – A mesma coisa com a não obrigatoriedade de fazer coisas

Proposta 6 – Escolher um (a)ser ou um estar, (b) bonita ou feia e (c) os demais no pertence não-pertence. A idéia é sempre pertencer. Quando não se pertence é preciso mudar. No pertence alonga a ação do estar, seja penetrando ou intensificando
[muito interessante: o movimento dentro dos padrões de movimento do outro e cedendo a ele. ser para o outro segundo ou ele]

Proposta 7 – Sté: vc faz o movimento e a gente diz se está bonito ou está feio.
Proposta 8 – agora no tá ridícula, tá gostosa.
Proposta 9 – Agora uma telepatia dita, falar o processo de pensamento....
Sentido de estar na ação.

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